A Escola Francesa de Geografia e o papel de A.Cholley*

 

 

 

Armen Mamigonian

Departamento de Geografia da USP

 

 

 

Introdução

 

1.

A necessidade do estudo das bases teóricas da geografia e do pensamento dos mais importantes geógrafos se manifestou fortemente nos anos 50 e 60 do século XX, um século após a consolidação da geografia, fundada na Alemanha por A. von Humboldt (1769-1859) e K. Ritter (1779-1859) e meio século após a consolidação da geografia francesa, fundada por P. Vidal de la Blache (1845-1918), historicamente a segunda grande escola geográfica do Mundo, aliás concorrentes entre si na primeira metade do século XX na batalha pela hegemonia das idéias em nossa disciplina.

Nos anos 50 e 60 foram publicados dois grandes balanços sobre o percurso da geografia, organizados por Griffith Taylor e A. Cholley[1] e desde então não cessaram os estudos sobre objetos, métodos, paradigmas, etc da geografia e o pensamento dos geógrafos considerados importantes em nossa história. Pretendemos chamar a atenção sobre André Cholley (1885-1968), cuja vida intelectual coincidiu com a ascensão e hegemonia da geografia francesa à escala mundial na primeira metade do século XX e cujo auge intelectual e dirigente se deu entre os anos 1945-55, quando além de professor de geografia física, foi diretor do Instituto de Geografia e Doyen da Faculdade de Letras de Paris (Sorbonne), na época em que conviveu naquela instituição com Max Sorre e nela introduziu J. Dresch e P. George.

Curiosamente não existem estudos e referências suficientes sobre A. Cholley, no sentido de decifrar sua importância na geografia francesa, onde começou a se destacar pelas mãos de Emm. De Martonne, orientador de sua magistral tese sobre Les Préalpes de Savoie (1925), depois portanto da série de geógrafos formados no início do século por P. Vidal de La Blache, que defenderam suas teses anos antes, como R. Blanchard, Max Sorre, A. Demangeon, o próprio De Martonne e outros, tendo sido uma tese eminentemente regional, na tradição lablachiana[2]. Diferentemente da maioria dos referidos geógrafos, A. Cholley deixou uma obra relativamente escassa de livros, mas de modo semelhante a Max. Sorre foi dos poucos que explicitou uma visão pessoal da geografia como ciência[3], fato raro entre os geógrafos franceses, mas comum entre os alemães.

 

2.

Como se sabe, a geografia moderna nasceu na Prússia, antes da unificação alemã, na primeira metade do século XIX (A. von Humboldt e K. Ritter), como filha da filosofia clássica alemã (I. Kant e F. Hegel), da mesma forma como ocorreu, pelo menos parcialmente, com o marxismo (K. Marx e F. Engels). Ela acabou se firmando como uma necessidade intelectual francesa no final do século XIX, sendo que a guerra franco-prussiana (1870-71) deu um grande impulso nesta direção. Assim, começaremos por perguntar o que era a França no período 1871-1914, quando de conhecimento praticamente ausente, a geografia se transformou em ciência muito avançada, revalizando com a geografia alemã, a partir da qual ela emergiu.

 

A França no século XIX, em especial de 1871 a 1914.

 

3.

Após Waterloo e o fim da Revolução francesa, o século XIX acabou sendo, do ponto de vista econômico e político, o século da “Pax Britannica”, com a G. Bretanha mantendo tranquilamente sua hegemonia européia e mundial, mas paralelamente a qual os EUA e a Alemanha ascenderam econômica e politicamente nas últimas décadas (1870-1900). É curioso que a França, seguramente a segunda potência européia e mundial à altura de 1800, mesmo tendo passado por uma enorme revolução político-social, tivesse perdido velocidade, não só frente a G. Bretanha, como diante das duas novas potências emergentes.

Se formos resumir a perda de velocidade francesa, poderíamos defini-la por um conjunto de características econômico-sociais e políticas[4], incluindo: 1) lento crescimento econômico, em particular da indústria, e a persistência de uma economia agrícola camponesa muito significativa, 2) baixo dinamismo populacional, com queda da natalidade, altas taxas de mortalidade e acentuado envelhecimento, 3) agitações político-sociais e mesmo guerras civis freqüentes (1830, 1848-50, 1871), comparativamente à estabilidade inglesa, além das guerras externas (Criméia 1854-56, México 1861-63, Prússia 1870-71, a maior e mais importante de todas), paralelamente aos 4) fortes fluxos de aplicações financeiras no exterior (Suez, Panamá, Europa oriental, etc), além das expansões coloniais no último quartel do século (Congo Brazzaville, Tunísia, Indochina, Madagascar, etc.).

A economia francesa transformou-se vagarosamente, ao longo do século XIX, por um “deslocamento progressivo do centro de gravidade da agricultura para a indústria e por uma lenta evolução dos métodos de organização industrial. A transformação realizada durante um século foi, em vários sentidos, menos completa que a ocorrida na Alemanha nos quarenta anos que se seguiram a 1871”[5]. Para entendermos este crescimento econômico lento da França no período mencionado é preciso nos reportamos às mudanças políticas e econômico-sociais decorrentes da Revolução francesa.

 

4.

A Revolução acabou criando nos inícios do século XIX uma nação distinta das demais nações européias, pela implantação de uma extensa reforma agrária, que criou uma importante classe de pequenos proprietários camponeses e pelo reforçamento do Estado central, herança do Estado colbertiano, capaz de impulsionar a economia e a sociedade, racionalizadas pelo Código napoleônico. Como parte do papel do Estado o ensino superior foi reestruturado e modernizado com a criação, entre outras, da Escola Politécnica (1794), Escola de Minas (1794), Conservatório de Artes e Ofícios (1798), Escola Normal Superior (1798), assim como da Escola Central de Artes e Manufaturas, fundada mais tarde (1828-29) por um grupo de engenheiros e industriais[6].

Mas por que este enorme salto modernizador do Estado francês não acelerou fortemente o desenvolvimento econômico? É que o outro lado da Revolução, o lado camponês, teve um papel fundamental no futuro da França. Com a Revolução iniciada, os camponeses sublevados no verão de 1789 ocuparam por sua própria conta as terras senhoriais, se libertando dos deveres e serviços feudais, sem precisarem pagar compensações (abolição da servidão), garantindo a posse da terra e criando uma enorme classe social de pequenos proprietários rurais, tão típica da sociedade francesa do século XIX. Em 1791 foram abolidas as corporações de ofício, que paralisavam as iniciativas individuais no que se refere às manufaturas e indústrias privadas. Paralelamente foi revogado o direito de barreira alfandegária entre províncias e assim, homens, mercadorias e capitais puderam se deslocar livremente: o território francês se tornou um mercado único, protegido por uma tarifa externa elevada. Como se vê, a Revolução baixou medidas modernizadoras, que garantiram o crescimento econômico, mas não asseguraram uma “decolagem acelerada” (o take-off de W. W. Rostow), já que a enorme dimensão da economia camponesa freava e controlava o ritmo do crescimento capitalista[7], pois 1) os camponeses mantinham uma economia natural policultora fortemente auto-suficiente, que por isto mesmo dava sustentação a uma rede de centenas de pequenas e médias cidades no interior da França, mas que por isto mesmo constituía um mercado diminuto para o grande capital e 2) saiam lentamente do complexo rural, onde estavam inseridos, para o assalariamento ao máximo evitado, combinando formas de resistência como a condição de micro-proprietário camponês com a de arrendatário (metayer) ou de operário-camponês, etc. provocando uma lenta oferta de força de trabalho para o capital[8].

 

5.

A presença desta enorme classe camponesa, diversificada em camponeses ricos, médios e pobres, constituiu uma marca registrada da sociedade capitalista francesa em todo o século XIX e toda a primeira metade do século XX. Os camponeses foram o fiel da balança nos embates entre a burguesia e o proletariado na França e em geral optaram por uma postura conservadora e pró-burguesa[9], mas também foram responsáveis, tomando em conta as circunstâncias, pela lentidão do crescimento econômico, como já se sublinhou, e pela desaceleração populacional, pois a queda da natalidade fez parte da estratégia camponesa de acumulação econômica e de sobrevivência autônoma, como fuga ao assalariamento. As taxas de crescimento anual do produto nacional, que refletiam a estrutura acima apontada, estiveram entre as mais baixas dos países industrializados da Europa (Itália 1,4% e França 1,6%), enquanto Alemanha (2,9%) e Suécia (3%) registravam taxas bem maiores e da América do Norte, onde as taxas eram mais altas ainda (EUA 4,3% e Canadá 3,8%), considerando o longo período de 1970 e 1913.

A evolução demográfica francesa registrou ao longo do século XIX uma queda do coeficiente de natalidade mais rápida do que na G. Bretanha e na Alemanha: 31,7‰ em 1800-10 para 20,5‰ em 1900-10, ao passo que o coeficiente de mortalidade diminuiu menos depressa do que nesses mesmos países: 26,3‰ em 1800-10 para 19‰ em 1900-10, conduzindo a uma menor presença populacional comparativamente às demais potências[10]:

 

População (milhões)

1800

1850

1900

1930

França

27,3

35,8

39,0

41,8

Grã Bretanha

15,0

22,6

38,7

46,0

Alemanha

24,6

35,9

56,4

64,3

Rússia (URSS)

37,0

60,2

111,0

156,0

Estados Unidos

5,3

23,2

76,0

122,9

 

6.

O período que vai de 1870 a 1913 foi muito importante na história européia, mais ainda para a Alemanha e a França, considerando os ritmos distintos de crescimento econômico, a França com 1,6% ao ano e a Alemanha com 2,9%, quase o dobro. Em 1871 a França saiu derrotada da guerra franco-prussiana e assistiu em Versalhes a proclamação do Império alemão, e ambas continuaram a se defrontar militarmente na primeira guerra mundial (1914-18) e na segunda (1939-45). Se 1871 foi mais uma vitória político-militar dos alemães, em plena expansão, a derrota francesa significou um grande choque na idéia de “grandeza” da França, provocando grandes reviravoltas materiais, políticas e mentais.

Em 1870-71 foram registrados 140 mil mortos franceses, tanto por ferimentos como por doenças (varíola), enquanto as baixas alemãs foram muito menores (60 mil), sem registros de mortes por varíola, pois suas tropas haviam sido vacinadas. O Tratado de Francfourt retirou da França 14.000Km2, habitados por 1,5 milhão de habitantes, provocando grande migração de alsacianos e lorenos, que abandonaram suas regiões e se dirigiam à França, além da cobrança de indenizações financeiras, levando o Estado francês a emitir papéis da dívida pública. Durante os conflitos caiu a monarquia de Napoleão III, proclamando-se a III República francesa (1870), assim como a insurreição popular de Paris (1871) acabou afogada em sangue, provocando um refluxo prolongado das lutas sociais na França, compensado por crescimento do movimento operário na Alemanha: em 1871 os social-democratas registraram 102 mil votos, saltando para 493 mil em 1877 e alcançando 1427 mil em 1890[11]. Se os franceses viveram um refluxo das lutas sociais, a derrota de 1870-71 despertou sentimentos nacionais intensos, inclusive entre os intelectuais, e uma autocrítica cultural e ideológica, que desembocou na valorização dos estudos geográficos, até então incipientes na França, comparativamente à Alemanha.

 

7.

A Europa também viveu de 1873 a 1896 mais uma prolongada fase depressiva do ciclo longo industrial, com prejuízos maiores na França. A crise foi agravada pela política comercial livre-cambista (1860-1892), inaugurada pelo tratado de comércio franco-inglês, com pequenas mudanças protecionistas em 1881, e substituída por tarifas nitidamente protecionistas em 1892, com o governo Jules Méline. Durante o período de livre-comércio as importações agrícolas da América (cereais, etc) deprimiram a economia camponesa francesa, acelerando o êxodo rural, e como ela representava grande parte do consumo do país, afetou a demanda de produtos industriais nacionais[12], mais uma vez se registrando a importância camponesa na economia e na política francesas.

Em decorrência da derrota de 1870-71 e da crise econômica prolongada do final do século, acabaram se concretizando as pressões no sentido de conquistas coloniais e investimentos financeiros no exterior, o que igualmente reforçou a presença na vida francesa das antigas sociedades de geografia e estimulou o desenvolvimento dos estudos geográficos modernos, como praticados na Alemanha.

 

A gênese e o desenvolvimento inicial da geografia francesa (1871-1930)

 

8.

É interessante observar que a gênese da geografia alemã, a primeira verdadeiramente moderna, tenha se dado num momento em que os alemães vivam subdivididos em numerosos pequenos Estados, sobrevivência da estrutura política fragmentada medieval, com vida econômica social precária e arcaica. Entretanto, em contraste, a vida intelectual alemã revelava grande fertilidade, sobretudo na filosofia e na literatura[13].

O primeiro pensador que refletiu ao mesmo tempo sobre filosofia e geografia foi I. Kant (1724-1804), responsável pelo ensino de geografia física, entre outros cursos, na Universidade de Königsberg de 1756 a 1796, mesmo antes que existisse uma cadeira de geografia nas Universidade alemãs, a primeira delas na Universidade de Berlim, criada em 1820 para ser ocupada por K. Ritter[14].

 

9.

O processo de desenvolvimento desigual dentro da Europa de 1870 a 1913 colocou lado a lado a G. Bretanha, em processo de perda de vitalidade, junto com a França, a Itália, etc., em crescimento econômico muito lento e de outro lado alguns países com forte dinamismo econômico, como a Alemanha, Dinamarca, Suécia, etc. Já assinalamos que o desenvolvimento alemão e sua unificação política tiveram muito a ver com a riqueza do pensamento de Kant e Hegel e também com as idéias geográficas dele decorrente[15]. É curioso que a França no período 1870-1913, com crescimento econômico e populacional muito lento, em pleno processo de retração tanto econômica como política frente à Alemanha, tenha desenvolvido sua ciência geográfica de maneira muito dinâmica, copiando inicialmente a geografia alemã, alcançando originalidade reconhecida mundialmente nas primeiras décadas do século XX e não se rivalizado, como ultrapassado a geografia alemã, que dava sinais de degenerescência na década de 30.

Parece certo que o acontecimento mais importante no despertar da França para os estudos geográficos modernos tenha sido a guerra franco-prussiana, que marcou profundamente toda a sociedade francesa e exigiu uma reelaboração das idéias de identidade nacional. Para a França foi um choque muito grande a derrota e a morte de um número muito maior de franceses do que de alemães, em grande parte por doenças, apesar dos nomes consagrados de C. Bernard e L. Pasteur nas pesquisas biológicas, sem falar na perda de territórios, com grande migração de alsacianos e lorenos para o território francês, das indenizações financeiras a pagar, etc.

 

10.

Deve-se notar, paralelamente, que após o retorno de A. von Humboldt das pesquisas na América espanhola (1799-1804), sua estada em Paris durou nada menos de vinte anos, organizando os dados colhidos, para publicá-los. “O incomparável vigor e o brilho da vida intelectual em Paris, àquela época, constituiu grande estímulo: Gay-Lussac, Laplace, Lamarck, Cuvier, Arago, Jussieu e muitos outros cientistas foram seus amigos e colaboradores. Richtofen atribuiu grande parte da eminência intelectual de Humboldt à influência da cultura francesa sobre a base da sua formação germânica”[16]. Em 1871 a “grandeza da França estava abalada.

Em resposta ao historiador alemão Monnsen que invocava, em favor da anexação da Alsácia-Lorena pelo Império Alemão, o “princípio de nacionalidade” (definido pela raça e a língua), o historiador Fustel de Coulanges escreveu: “o que distingue as nações, não é a raça, nem a língua. Os homens sentem no seu coração que são um mesmo povo quando têm uma comunidade de idéias, de interesses, de afeições, de lembranças e de esperanças. Eis o que faz a pátria. Eis porque os homens querem marchar juntos, juntos trabalhar, juntos combater, viver e morrer uns pelos outros. A pátria é o que se ama. Pode ser que a Alsácia seja alemã pela raça e pela língua; mas pela nacionalidade e o sentimento da pátria, ela é francesa. E sabeis o que a tornou francesa? Não foi Luis XIV, foi nossa Revolução de 1789. Desde aquele momento a Alsácia seguiu o nosso destino, ela viveu nossa vida. Ela não teve nada de comum convosco. A pátria, para ela é a França. O estrangeiro para ela é a Alemanha”[17].

O choque de 1871 despertou os intelectuais franceses a repensar a identidade nacional, assim como o choque de 1892 (guerra hispano-americana) teve o mesmo efeito na Espanha. A chamada geração de 92 (Ortega y Gasset, Unamuno e outros) repensou a Espanha sobretudo a partir da história, da mesma forma que o pensamento histórico sobre a nacionalidade francesa teve, anos antes, vozes brilhantes com E. Renan (1823-1892) e F. de Coulanges (1830-1889) entre outros e mesmo mais recentemente com F. Braudel[18]. Mas o efeito intelectual mais forte do choque de 1871 na França foi o nascimento da geografia moderna na universidade, com a criação de uma cadeira específica em Nancy (1872), em plena proximidade da Alemanha, onde havia sido criada em 1871 a segunda cadeira universitária de geografia, depois daquela de Berlim, para K. Ritter em 1820, agora em Leipzig, ocupada por O. Peschel[19].

 

11.

Naquele momento o salto nos estudos geográficos e no interesse pela geografia adquiriram três caminhos: 1) E. Reclus, discípulo de Ritter, que já havia editado em 1867-68 “La Terre, description des phénomènes de la vie du Globe” em dois volumes, trabalhou arduamente no exílio, após sua expulsão em 1871, publicando a partir de 1875 a “Nouvelle Géographie Universelle”, que completou 19 volumes em 1893, 2) atividades e publicações orientadas pelas sociedades geográficas (a mais antiga, a de Paris, até hoje existente, foi fundada em 1821), que foram se multiplicando por todas as grandes cidades francesas, como Marselha, Bordeaux, Toulouse, Lion, etc, com maior presença do que em qualquer outro país, e que além dos estudos locais estimularam o conhecimento e as conquistas coloniais de 1875 em diante, para compensar as perdas da guerra franco-prussiana, 3) o nascimento da geografia universitária moderna, iniciada com a criação da referida cadeira em Nancy, ocupada de 1873 a 1877 por P. Vidal de La Blache, e seguida até as duas primeiras décadas do século XX pela implantação de novas cadeiras em Lille, Bordeaux, Lion, Rennes, Arge, etc, algumas de geografia colonial (por exemplo em Paris, em 1892), assim como também iam se multiplicando as cadeiras de geografia nas universidades alemãs[20].

A geografia de E. Reclus teve ampla repercussão no mundo cultural francês e também no exterior, mas pouco influenciou as pesquisas geográficas francesas, dado seu caráter libertário, enquanto a produção das Sociedades geográficas teve maior penetração, sobretudo como instrumento político-econômico, por causa de seu caráter informativo (relatos de viagens, etc) e conservador. A geografia de La Blache, a geografia universitária, apesar de posterior às outras duas, foi a que expandiu com maior força, porque analisava a realidade de maneira vigorosa e atendia melhor às necessidades da burguesia francesa, como veremos adiante.

 

12.

P. Vidal de La Blache foi um grande intelectual das classes dominantes, nascido de uma família ligada ao aparelho de Estado francês. Seu avô participou dos combates contra os espanhóis na Catalunha (1795), nos eventos militares da Revolução Francesa. Seu pai, após vários concursos infrutíferos, ingressou no magistério secundário e fez carreira ascendente no ensino público. Ele próprio se dedicou muito precocemente ao ensino universitário e seu irmão à carreira militar, com participação na guerra franco-prussiana, na Alsácia-Lorena, aprisionado e depois fugindo para o Luxemburgo, alcançando mais tarde o grau de general, ambos falecidos nos fins da primeira guerra mundial, após a morte em combate do seu próprio filho, também militar. Através de laços familiares La Blache tinha relações no alto escalão do Ministério da “Instruction publique”[21].

La Blache após cursar a École normale superieur e se classificar me primeiro lugar na agregação de história e geografia (1866), foi lecionar em Atenas (1867-69), aproveitando para viajar pela Grécia, Turquia, Síria, Palestina e Egito. Tendo sustentado doutorado na Sorbonne em 1872, decidiu tornar-se geógrafo, partindo de sua formação básica de historiador e aceitar a cadeira de geografia, recém criada na Universidade de Nancy (1873-77). Deu seqüência ao caminho escolhido, lecionando na École normale (1877-98) e depois na Sorbonne a partir de 1899. Diante do grande atraso da França nesta área de conhecimento e com apoio administrativo-governamental, tomou inúmeras iniciativas, mais tarde complementadas por L. Gallois (1857-1941) e Emm. de Martonne (1873-1955), visando se apropriar e aprofundar as idéias e experiências acumuladas em outros países, sobretudo na Alemanha[22].

 

13.

Qual a diferença entre a responsabilidade intelectual de Ritter na origem da geografia alemã e a de La Blache na origem da geografia francesa? A tarefa intelectual de Ritter ao assumir suas responsabilidades na Universidade de Berlim embasou-se, naturalmente, na sua formação: 1) treinamento na escola secundária pelos princípios de Rousseau e Pertalozzi, no ?????? pela natureza, nas observações extras durante os passeios didáticos e no estudo das relações espaciais entre as coisas, partindo da própria escola, passando pela aldeia ou cidade, pela região até gradativamente alcançar a abrangência mundial, assim como Humboldt na mocidade havia se interessado no desenho de mapas, em diferentes escalas, 2) na universidade estudou matemática, filosofia, história e ciências naturais, 3) nas influências das idéias filosóficas e geográficas de Kant, que já se manifestavam no ensino secundário e universitário alemão, mas sobretudo nas leituras para preparação dos seus livros, 4) na redação de “Europa, um retrato geográfico, histórico e estatístico”, cujo primeiro volume saiu em 1804 e o segundo em 1807, na divulgação em 1806 de seis mapas da Europa, seguidos de vários trabalhos de metodologia e na publicação de “Erdkunde” (1º volume em 1817, 2º em 1818 e continuando nos anos seguintes). Assim, quando assumiu a Universidade de Berlim (1820), já era um geógrafo preparado e consagrado, num ambiente de enorme efervescência, paralelamente ao atraso econômico, político e social. Seu encontro em 1827 com Humboldt e a convivência até 1859, quando ambos faleceram, contribuíram para grandes intercâmbios intelectuais e estímulos mútuos[23].

 

14.

Assumindo em Nancy (1872), sua primeira função de ensino exclusivamente geográfico, La Blache teve a capacidade de perceber a necessidade de se dirigir imediatamente à Alemanha, encontrando-se com Peschel em Leipzig e em Berlim com Richthofen, que havia voltado da sua famosa viagem científica à China. Nos anos seguintes passou a viajar bastante, como fez seguidamente à Argélia e à Tunísia, mas também à Espanha, G. Bretanha, Escandinávia e retornando à Alemanha, Áustria e sobretudo Itália. As visitas e estágios em centros mais avançados foram insistentemente indicados aos seus orientandos, como Max-Sorre, que assistiu aulas de F. Ratzel na Alemanha e H. Baulig, que seguiu o curso de geomorfologia de W. M. Davis nos EUA, entre outros. Na verdade, La Blache teve que desenvolver uma política em várias frentes de luta, para poder dinamizar a nascente geografia universitária francesa. A primeira foi apontada acima: usufruir ele próprio e seus discípulos o que havia de mais avançado no exterior e na França. Citamos exemplos no exterior e valeria lembrar exemplos na França: estimulou os contatos de Max Sorre e Emm. de Martonne com os biólogos A. Chevalier e L. Cuénot, que ajudaram o avanço da biogeografia e da geografia médica, assim como os contatos com Emm. de Margerie, da mineralogia, fazendo avançar a geomorfologia de De Martonne e outros[24].

Antes da ida de La Blache a Sorbonne (1899) haviam sido defendidas poucas teses de geografia e uma delas foi a de L. Gallois, educado como La Blache na tradição histórica e que apresentou um estudo sobre “Les Géographes allemandes de la Renaissance” (1890). A presença de La Blache na Sorbonne resultou em inúmeras e importantes teses, tendo sido as primeiras as de J. Brunhes e de Emm. de Martonne, ambas de 1902[25], seguidas da nomeação dos novos doutores para as universidades da província, como Rennes (De Martonne), Grenoble (R. Blanchard), etc, exceção de J. Brunhes, que não fez carreira universitária.

 

15.

A divulgação de seus trabalhos, bem como a de seus discípulos foi encenada como tarefa muito importante. Seus dois primeiros livros, “Marco Polo, seu tempo e suas viagens” (1880) e “La Terre, géographie physique et économique” (1883) foram trabalhos relativamente pobres, diferentemente do terceiro publicado por ocasião do 4º Congresso da UGI, reunido em Paris, “Etats et nations de l’Europe autour de la France” (1889), do quinto, como tomo I da “Histoire de France” de E. Lavisse, sob o título “Tableau de la géographie de la France” (1903), do sexto “La France de l’Est (Lorraine-Alsace)” de 1917 e do sétimo, em co-autoria com L. Gallois, “Le bassin de la Sarre”, estudos de geografia regional, todos com forte conteúdo político, como discutiremos mais abaixo[26].

 

16.

Além das publicações de trabalhos científicos próprios, livros e artigos, foram editados seus materiais didáticos, aos quais La Blache deu grande ênfase, como as cartas murais escolares (1885) e o “Atlas Génèrale Vidal de La Blache (Histoire et Géographie)”, de 1894, que teve várias edições, muitas aceitações e foi de uso corrente entre as camadas cultas da população de vários países, inclusive o Brasil[27]. O grande instrumento de divulgação e debate nesta primeira etapa de implantação da geografia universitária francesa foram os Annales de Géographie, publicação periódica a partir de 1891 pela Armand Colin (direção de La Blache e M. Dubois), a principal editora de geografia desde fins do século XIX até meados do século XX, responsável, aliás, pela monumental “Geographie Universelle”, organizada por La Blache e L. Gallois, mas editada após a morte do primeiro, de 1927 a 1948, com alguns volumes clássicos, como os referentes a G. Bretanha, de A. Demangeon (1872-1940) e a América do Norte, de H. Baulig (1877-1962), entre outros.

Novamente La Blache percebeu claramente as necessidades e as oportunidades que se foram apresentando. No caso da revista (Annales de Géographie, que se edita até hoje), baseou-se no modelo das revistas universitárias alemãs e disputou a batalha das idéias com a Révue de Géographie, de L. Drapeyron, fundada em 1877, mas que acabou desaparecendo em 1905. Tratou de imprimir um caráter mais científico aos Annales, evitando publicar relatos de viagens e debateu suas idéias de geografia, que iam amadurecendo, com a radicalização das determinações geográficas de F. Ratzel e as propostas de morfologia social de E. Durkheim, que em contrapartida minimizavam as raízes geográficas[28]. O projeto da enorme coleção da Géographie Universelle se apoiou na força dos seus discípulos, que ocupavam cadeiras universitárias (De martonne, Max. Sorre, A. Demangeon, H. Baulig, entre outros), responsáveis pela tarefa de preparar os volumes correspondentes, e também se apoiou no modelo alemão (Erdkunde, de K. Ritter, por exemplo) e no sucesso de Nouvelle Géographie Universelle (1875-1895) de E. Réclus.

 

17.

Outra frente de luta na expansão da geografia francesa surgiu da participação de La Blache e de Emm. De Martone no encontro da UGI em Washington, no ano de 1904. A principal originalidade do Congresso Internacional foi seu caráter itinerante, iniciando-se em Washington, com seqüências em Filadélfia, Nova York, Búfalo, Chicago e Saint-Louis, com sessões de trabalho, visitas, recepções oficiais e curtas excursões. Após o encerramento na última cidade, começou uma grande excursão transcontinental, que permitiu a 80 congressistas (o encontro havia reunido 677 inscritos), entre eles La Blache e De Martone, percorrer durante três semanas o Oeste dos Estados Unidos e o México, totalizando 4.300 km, com inúmeros guias americanos, entre eles W.M. Davis. Esta grande experiência foi copiada e adaptada nos anos seguintes por Emm. De Martone, genro e herdeiro de La Blache, na realização da primeira Excursão anual geográfica interuniversitária, com duração de uma semana, em uma determinada região francesa, com a participação de professores e alunos de várias universidades, visando a pesquisa, acompanhada da discussão dos resultados. Tornaram-se famosas as polêmicas entre De Martone e R. Blanchard durante estas excursões anuais sobre questões geomorfológicas, entre outras, o que estimulou bastante o avanço e o amadurecimento da geografia francesa[29].

Na luta de P. Vidal de La Blache pela gênese da geografia universitária na França, tudo o que foi mencionado anteriormente de nada adiantaria, sem o esforço pela “invenção” de teorias e temas que dessem sustentação intelectual ao empreendimento, como nos seus debates com F. Ratzel e E. Durkheim; isto é, era preciso inventar a “geografia francesa”. Sua tarefa gigantesca foi facilitada pelo terreno virgem no campo universitário, diferentemente do que acontecia com a história, o que permitiu aproveitar o que havia de mais avançado: as idéias alemãs, mas que não podiam ser simplesmente copiadas.

A mais importante idéia esposada por La Blache foi a de “possibilismo”, frente ao “determinismo” de F. Ratzel, assumindo uma postura equilibrada no estudo da relação homem-natureza, não aceitando um possibilismo radical, que valorizava a ação humana, independentemente da natureza e nem a ênfase ratzeliana nos fatores naturais[30]. Na verdade F. Ratzel desviou-se da tradição aberta por Kant e adotada por Ritter e mais tarde por A. Hettner, no início do século XX. Enquanto Ritter escreveu sobre as relações recíprocas entre o homem e a natureza, “Ratzel tendia a ver o homem como produto do meio, moldado pelas forças físicas que o rodeavam e subsistindo apenas na medida em que se ajustava corretamente às suas condições”[31]. Assim, no combate ao determinismo de Ratzel, P. Vidal de La Blache assumiu uma posição neo-kantiana, criticando a transposição grosseira das idéias de Darwin e dos darwinistas sociais, como H. Spencer, à geografia humana. Em F. Ratzel já aparece o biologismo que mais tarde se transformou em racismo e também em agressividade geopolítica com K. Hanshofer, um dos fundadores da revista Zeitschrift für Geopolitik (1924), inspiradora do nazismo[32].

No fundo, tanto o possibilismo hablachiano quanto o determinismo ratzeliano foram visões empobrecedoras, na ênfase maior ou menor nas determinações naturais em detrimento das múltiplas determinações. Na verdade não se tratava da relação homem-natureza, mas de sociedade-natureza, pois desde a Introdução à crítica da economia política (1857), Marx já havia observado que “em todas as formas de sociedade há uma produção determinada que é superior a todas as outras” e “em todas as formas em que predomina a propriedade da terra, a relação com a natureza é predominante; naquelas formas em que reina o capital, é o elemento social produzido historicamente que prevalece”. De qualquer maneira seria necessário conhecer o sistema natural e a estrutura da sociedade; isto é, sua formação econômico-social, cujo eixo central são as relações de produção (de propriedade e de trabalho), pois as relações dos homens com a natureza são mediadas pelas relações dos homens uns com os outros. Para decifrar um país ou uma região seria preciso analisar as múltiplas determinações naturais, técnicas, de trabalho, de propriedade, culturais, políticas, etc que se combinam num todo concreto e localizado. Enquanto La Blache estava combatendo Ratzel, no interesse da visão francesa de Mundo, W. Lênin estava decifrando seu país, centrado na forma produtiva mais avançada, em O Desenvolvimento do capitalismo na Rússia (1898) e mais tarde procurou decifrar as relações mundiais entre os países, igualmente pelas formas mais avançadas, com sua teoria do imperialismo (1916), como assinalou H. Lefebvre[33].

Como já se disse muitas vezes, a escola francesa de geografia, sob liderança de La Blache, deu grande ênfase aos estudos regionais, que procuraram decifrar as relações entre os homens e as condições naturais, numa visão kantiana de mútuas influências, inspirando, aliás, os novos historiadores da época (L. Febvre publicou em 1912 uma Histoire de La Franche-Comté, por exemplo), que se apoiaram aos avanços da geografia e de outras ciências para renovar os estudos históricos, fundando em 1929 Les Annales d’histoire économique et sociale, em cujo comitê de redação figuravam dois geógrafos, A. Demangeon e A. Siegfried[34].

Por tudo que sabemos, não causa surpresa que no momento atual, de retomada dos interesses pelos estudos geográficos regionais e locais, a obra de Vidal de La Blache reapareça, comparada às visões de Marx e de F. Jameson, um dos raros intelectuais marxistas americanos, como paradigma do mundo pré-industrial camponês, em comparação com o mundo industrial do século XIX (Marx) e com o mundo capitalista atual nos EUA (Jameson). Curiosamente a seqüência escolhida por N. Thrift (Vidal, Marx e Jameson) é cronológica quanto à evolução da tipologia regional, mas não é quanto aos autores, pois faltou dizer que Marx analisou o capitalismo industrial inglês antes que La Blache analisasse a França camponesa (sobretudo através de seus discípulos, de 1902 a 1918), o que levou Thrift a indicar como feudal o modelo de produção dominante examinado por Vidal[35]. Aqui aparece um equívoco visível, mas de fácil explicação.

F. Braudel insistiu recentemente em perguntar por quantos séculos a  França teria vivido uma “economia camponesa” e ele mesmo respondeu “até os dias de hoje”, apoiando-se nos estudos e depoimentos de P. Dufournet sobre a Savóia: “muitos dos antigos caminhos, que remontam mesmo à protohistória, vão desaparecendo sob as matas de corte, as sebes e as culturas, por não poderem ser usados pelas máquinas motorizadas e por volta de 1960 eram ainda quase todos transitáveis, pelo menos a pé”[36]. No início do século XX, quando foram realizadas as pesquisas regionais dos discípulos de Vidal, a França era fortemente camponesa, mas relações feudais estavam enterradas desde a Revolução Francesa e desde então a economia capitalista passou a comandar o país e principalmente e economia camponesa[37].

Como analisou V. Berdoulay a geografia vidaliana estava em harmonia com a política dominante da 3ª República, e se apoiava nela (Jules Ferry e outros dirigentes políticos), de nacionalismo e expansão colonial, de aliança burguesia-camponeses, visando isolar o movimento operário, de ensino obrigatório, laico e gratuito, dentro da tradição republicana[38]. Ao valorizarem o mundo camponês, nas teses regionais, os discípulos de Vidal estudavam a França “profunda”, diversificada nas relações homens-natureza locais (pays) e ajudavam a cimentar a aliança política entre a grande burguesia francesa e a classe camponesa, mas cometiam o pecado do anacronismo intelectual, pois o enfoque no chamados gêneros-de-vida, apoiado na etnografia, tratava de sociedades tribais e de sociedades camponesas isoladas, quando a França do século XIX já era uma sociedade onde o capitalismo constituía o modo-de-produção principal e a pequena produção mercantil era um modo de produção subordinado. Assim, enquanto K. Marx na sua análise dos camponeses tinha os olhos voltados para o futuro, Vidal tinha os olhos voltados para o passado. Analisando a economia camponesa. K. Marx assinalava que “a agricultura torna-se cada vez  mais um simples ramo da indústria, dominado pelo capital” e a análise de Vidal e seus discípulos insistia numa visão anacrônica, de permanência das relações natureza-sociedade e de minimização das relações sociais. O enfoque nos gêneros-de-vida, na escola francesa, teve uma longa e pesada duração e só foi abandonado após a segunda guerra mundial, graças às mudanças na realidade e ao combate empreendido pelos geógrafos então marxistas, como P. George[39].

 

18.

O lado menos conhecido atualmente da produção intelectual dos primeiros tempos da escola francesa de geografia é o da geografia política, devido a aversão à geopolítica alemã, sobretudo após a segunda guerra mundial, mas também às colocações equivocadas de Y. Lacoste nos primeiros números da revista Hérodote e outras publicações[40]. É interessante assinalar que antes mesmo da publicação da Politische Geographie (1897) de E. Ratzel, o primeiro grande trabalho de fôlego de P. Vidal de La Blache tenha sido Etats et nations de l’Europe autour de la France (1889). Foi uma escolha deliberada no sentido de entender os países limítrofes da França[41], “para estudar as relações entre o solo e os habitantes”, explicativas freqüentemente das “variedades e mesmo das contradições que se observa na fisionomia dos povos”, como assinalamos no prefácio. O livro trata bastante de questões políticas e já no capítulo preliminar faz referência à questão da língua e nacionalidade no conjunto da Europa. Nos capítulos específicos faz seguidamente observações de geografia política: 1) o caráter político da nacionalidade suíça, 2) a significação militar e política da área de Meno, na região alemã, 3) a formação do reino da Saxônia, 4) origens coloniais da área prussiana, as anexações prussianas de 1866 e as relações da Prússia com Império alemão, 5) a nacionalidade holandesa, 6) a marinha mercante e a influência política britânica, 7) a nacionalidade escocesa, 8) a nacionalidade irlandesa, 9) ligações da Inglaterra com a Europa e com suas colônias, 10) as províncias do noroeste como berço da nacionalidade espanhola, 11) a Espanha e a África, 12) o caráter catalão, 13) a unidade italiana.

Toda a obra de La Blache está imbuída de uma visão política a serviço do nacionalismo francês: 1) crítica às colocações de Ratzel quanto à geografia política, 2) inclui a Alsácia-Lorena, então sob o domínio alemão, na França de leste no seu Tableau de la geógraphie de la France (1903), 3) La France de l’Est (Lorraine-Alsace), concluída em dezembro de 1916 e publicada em 1917, contribuiu para o retorno destas províncias ao domínio francês, já que o presidente W. Wilson, dos EUA, era contra a devolução[42]. O que se disse de Vidal vale para seus discípulos. C.Vallaux publicou em 1911 Geógraphie sociale: lê sol et l’Etat e juntamente com J. Brunhes, Lê Geógraphie de l’histoire. Géographie de la paix et de la guerre sur terre et sur mer (1912). A. Siegfried publicou em 1913 o clássico Tableau politique de la France de l’ouest sous la 3ª Republique. Mais tarde, na década de 30, quando K. Hanshofer estava no auge do prestígio, J. Ancel defendeu a tradição da geografia política francesa de J. Brunhes e Vidal de La Blache na própria Zeitschrift für Geopolitik (1939), além de expor suas idéias sobre a Alemanha no Manuel Géographique de politique européenne, tome 2 (l’Allemagne), Ed. Delagrave. Deve-se registrar que J. Ancel, francês de origem judaica, foi morto durante a ocupação nazista da França e K. Hanshofer se suicidou em 1946.

 

19.

De tudo o que foi exposto é possível dizer que se o crescimento econômico da França continuou lento de 1871 a 1914 comparativamente à Alemanha, a geografia francesa realizou neste período um salto excepcional, projetando-se mundialmente como concorrente à hegemonia germânica. Em 1898 no mundo todo a geografia estava sendo ensinada por 121 professores em 92 instituições de ensino superior: 32 e 22 respectivamente na Alemanha, 22 e 16 na França, 16 e 11 na Rússia, 14 e 10 na Áustria, etc. No conjunto da UGI de 1904 em Washington a França participou com a segunda delegação estrangeira (43 membros), após a Alemanha (65 membros). Em 1920 a geografia era lecionada em todas as universidades, salvo Caen[43].

Enquanto a geografia alemã foi prejudicada pelo fanatismo nazista, deve-se assinalar que a geografia francesa, por razões que não estão suficientemente discutidas, viveu na década de 30 um significativo avanço teórico e empírico, que se prolongou nos anos 40 e 50, mas começou a perder vitalidade nos anos 60 e 70.

 

A inserção de A. Cholley na Geografia francesa

 

20.

Como se sabe o tempo de constituição da geografia moderna na França completou um século nos dias atuais e nos caberia tentar algumas comparações, que ajudem a explicar o percurso e as características atuais. Atualmente no lugar de uma grande liderança do pensamento geográfico francês, podemos distinguir três lideranças, sem a grandeza de P. Vidal de La Blache das últimas décadas do século XIX e primeiros do século XX e nem de Emm. De Martone, que comandou a geografia francesa até a 2ª guerra mundial. Os líderes atuais dirigem revistas, que não recebem o reconhecimento que garantiram a força dos Annales de Geógraphie: L’Espace géographique (R. Brunet) editada desde 1972, Hérodote (Y. Lacoste) editada desde 1976 e Géographie et Cultures (P. Claval) editada desde 1992. R. Brunet e Y. Lacoste foram membros do PCF e discípulos de P. George, sendo que os três fizeram um percurso de moderação política, numa marcha em direção ao centro do espectro político. P. Claval sempre esteve em posições politicamente centristas, o que dá a curiosa situação de três lideranças de centro, que se degladiam freqüentemente por 1) questões de técnicas de trabalho, como as críticas de Y. Lacoste ao quantitativismo, sobretudo de R. Brunet e 2) temáticas distintas (geopolítica, cultura, etc.).

 

21.

Para chegar a esta situação distante do dinamismo e da grandeza dos primeiros tempos, foi preciso passar por uma crise política e epistemológica que começou a altura de 1960, mas foi precipitada pelos acontecimentos de 1968, que abalaram toda a universidade francesa. Entretanto nos anos 30 foram gestadas idéias que fizeram avançar a geografia francesa, provavelmente sob o estímulo da concorrência da geopolítica alemã, da radicalização da sociedade, aliás nítida entre os intelectuais, que se definiam freqüentemente entre extrema-esquerda e extrema-direita, assim como na Alemanha sob a República de Weimar havia ocorrido o mesmo, anos antes. O avanço teórico e empírico da geografia francesa dos anos 30 não foi percebido por P. Claval e nem anteriormente por A. Meynier[44].

 

22.

O primeiro a apontar o avanço teórico dos anos 30 foi A. Cholley[45], que teve o papel de captar a mudança epistemológica provavelmente por ter sido herdeiro de uma lenta evolução da geografia em direção ao referido salto. O corpo de cientistas da nova ciência foi montado, como já se disse, por P. Vidal de La Blache, que era essencialmente geógrafo humano e pouco entendia de geografia física, daí ter feito o esforço de incorporação de geólogos, botânicos, etc a um trabalho conjunto com os geógrafos (Emm. De Margerie, p.ex.). A liderança da geografia francesa passou a ser exercida, sem descontinuidade, após 1920 por Emm. De Martone, que acabou se tornando basicamente um geomorfólogo, bastante ligado às idéias de W.M. Davis. Assim sendo, a chamada geografia regional francesa carecia de um instrumental teórico que realmente conseguisse acoplar criativamente os fatos naturais com os fatos humanos, o que na verdade não se tinha conseguido fazer nas primeiras teses. Não por que a geografia alemã, com suas raízes kantianas, não tivesse indicado os caminhos teóricos, mas provavelmente por que praticá-los não era tarefa muito fácil, exigindo um domínio aguçado de campos tão díspares como clima, relevo, ocupação humana, cidades, etc. Nunca seria suficiente montar uma colagem de fatos, um a um e sabe-los desmontá-los para efeito de análise e em seguida combina-los num quebra cabeça explicativo. Em resumo seria necessário dominar e acoplar os dois enfoques da geografia inaugurada por Kant, o enfoque sistemático (teórico) e o enfoque regional (empírico), dizendo de maneira simplificada.

Sob a orientação de Emm. De Martone. A. Cholley realizou um enorme esforço empírico e teórico, ao escrever sua tese Lês Préalpes de Savoie (Genevois, Bauges) et leur avant-pays: étude de geógraphie régionale[46] na época em que trabalhava em Lyon, como “maitre de conferénces”, antes de seguir em 1927 a Paris.

Sua tese foi, no dizer de De Martone, a primeira tese original sobre uma região montanhosa da França, já que a de Max. Sorre sobre os Pirineus foi basicamente um estudo de biogeografia[47]. Assim como Humboldt foi favorecido nas suas observações geográficas ao tratar das regiões montanhosas (Andes, p.ex.), pela tendência ao aparecimento de vários pequenos sistemas naturais bem delimitados, igualmente A. Cholley se viu defrontado pela imbricação complexa, mais ao mesmo tempo “didática” de fatos de origens diversas, manifestadas em tipos de tempo, hidrologia complexa (lagos, pântanos, fluxos glaciais, etc.), a presença milenar de ocupação camponesa, com diferentes tipos de aproveitamento das condições naturais (planícies, encostas, montanhas, etc.) e uma industrialização de base rural e de pequenas cidades (Annecy, p.ex.).

Após uma introdução, tratou da Morfologia dos Préalpes da Savoia (p. 83 a 166), do clima e da hidrologia (p. 167 a 287), de um capítulo intermediário entre o natural e o humano (O homem e as condições naturais, p. 288 a 384), seguido dos Gêneros de Vida (p. 385 a 705) o mais volumoso da tese, seguido da conclusão (706 a 715). É curioso que A. Cholley tenha sido o primeiro geógrafo francês a incorporar as idéias de J. Bjerkner e H. Solberg, meteorologistas escandinavos, e assim a trabalhar não só com os chamados elementos do clima (temperatura e precipitações), mas também com as estações e tipos de tempos (p. 217 a 235), tendo superado De Martone neste campo e sido o responsável pela orientação de tese de P. Pedelaborde: Lê Climat du bassin parisien (essai d’une méthode rationalle de climatologie physique), Ed. Génin, 1957, que impulsiona a chamada climatologia dinâmica.

A tese de A. Cholley não só é majoritariamente de geografia humana, pelo número de páginas, mas pelo espírito, já que para ele o homem é o centro das preocupações da geografia que ele adota. Nela já aparecem dois componentes fundamentais do seu pensamento 1) o casamento de grande fertilidade entre geografia sistemática e geografia regional, na tradição de Kant, Ritter e Hettner, todos com ampla formação filosófica, como ele mesmo e 2) a idéia de que os fatos geográficos são combinações concretas, e como tais precisam ser estudados e decifrados.

Quanto às suas pesquisas de morfologia alpina teve que se defrontar entre as interpretações de Emm. De Martone e as de R. Blanchard, o que o levou a dar continuidade às pesquisas em outras regiões francesas (Bourgogne e região parisiense), tendo orientado grande número de teses sobre a bacia sedimentar parisiense (Tricart, Pinchemel, Journaux, etc.). Nestas pesquisas se deu conta da riqueza que os depósitos de encosta podiam representar na revelação das condições paleo-climáticas, e assim sua doutrina em matéria de geomorfologia ganhou corpo e se afinou: tectônica e erosão se livram a um duelo através das variações climáticas, permitindo definir a noção de “sistema de erosão” e o uso da técnica de análise dos sedimentos, em laboratórios apropriados. Este caminho, aberto por A. Cholley[48] corresponde ao salto em direção à geomorfologia climática, posteriormente apropriada indebitamente por vários autores (J. Tricart, p.ex.). C.A. Figueiredo Monteiro lembrou[49] que até a UGI de Lisboa (1948) a temática geomorfológica girava em torno das “superfícies de aplainamento nos dois lados do Atlântico” e em  Washington (1952) a temática passou a versar sobre os “cascalheiros” das encostas, tão reveladores dos processos paleo-climáticos.

De tanto relacionar fator, A. Cholley passou a teoriza-los: os fatos geográficos, quaisquer que sejam, aldeia, economia agrária, subúrbio em expansão, forças erosivas, etc., resultam de uma combinação de influências variadas, físicas, biológicas, humanas, mentais, etc., cujas interações são tão complexas que, as vezes tocar num elemento da combinação consiste em modificar o todo, por uma série de reações em cadeia. A análise dos elementos de tais combinações, a observação de sua vitalidade, fornecem à geografia o seu método, o qual define nossa ciência em oposição às ciências setoriais (geologia, botânica, etc.). Trata-se, assim, de descobrir o dinamismo duma combinação, sua extensão espacial, seu crescimento em detrimento das combinações vizinhas, e depois sua própria degenerescência. Não só é a visão sistêmica antes dela se generalizar, como é a visão de múltiplas determinações de Marx[50].

A. Cholley foi o sucessor de Emm. De Martone na liderança da geografia francesa e o auge do seu poder se exerceu de 1945 a 1956. Foi professor na Sorbone de 1927, levado pelas mãos de De Martone, até 1956, tendo sido seu Doyen de 1945 a 1953 e diretor do Instituto de Geografia de 1944 a 1956. Presidiu durante quase 20 anos o júri da nova agregação de geografia, assim como dirigiu por muito tempo a Associação dos Geógrafos Franceses e os Annales de Géographie no auge do seu prestígio[51].

Além das suas contribuições anteriormente apontadas é interessante lembrar que o animava uma grande preocupação didática: 1) colaborou com A. Demangeon na coleção de livros de primeiro e segundo graus, organizando anos depois sua própria coleção, com nomes de peso, como J. Dresch, P. George, P. Birot e outros, podendo-se dizer que seus livros didáticos até hoje não foram superados na seriedade do conteúdo, 2) fundou em 1936 a l’Information géographique, revista destinada aos professores do magistério secundário, 3) publicou em co-autoria com Emm. De Martone as cartas do “Etat-Major” 1/80.000”, selecionadas e comentadas, destinadas ao treinamento dos alunos universitários.

Mas a face didática, de estimulador de novas vocações, não deve obscurecer sua face de teórico importante, como reconheceram R. Hartshorne, em 1966, e G. Bertrand recentemente[52]. Bertrand assinala a importância da idéia de combinação geográfica para a gênese da categoria geo-sistema, lamentando que os geomorfólogos franceses se isolem em sua especialidade. Hartshorne lembra que no Guide de l’Étudiant, Cholley assinala a distinção entre Geografia e as chamadas ciências sistêmicas, bem como as semelhanças entre Geografia e História, tão próximas às colocações de Kant. Lamentavelmente nos anos 60 e 70 começaram a se acentuar as “fragmentações” da Geografia, já apontadas por A. Meynier[53], mas principalmente uma ênfase crescente à organização espacial (paisagem, etc.), como a “espacialidade” num processo de regressão teórica.

 

Anexo 1

Cronologia: A França, suas relações internacionais e sua geografia moderna

 

 

1860: O reino de Piemonte cede Savoia e Condado de Nice à França; Tratado de livre-comércio entre França e Inglaterra (1860-1892); Aparecimento das primeiras câmaras sindicais na França

 

 

1862: Ascensão de Bismarck na Prússia (queda em 1890); Política de unificação da Alemanha (1862-1871); Acordo franco-inglês autorizando sociedades inglesas a funcionar livremente na França

 

 

1863: Fundação do Crédit Lyonnais

 

 

1864: Fundação da Primeira Internacional Operária (Londres)

 

 

1866: Vitória da Prússia sobre a Áustria; Falência do Crédit Mobilier (irmãos Pereire); greve dos mineiros de carvão no norte da França

 

 

1867: Exposição Universal em Paris

 

1867-68 - E. Reclus: La Terre, description des phénomenes de la vie du globe, 2. vol

 

 

1869: Inauguração do Canal de Suez; Primeiro cartel do ferro na Alemanha (folha de Flandres).

1867-69 - La Blache lecionou na École française d’Athènes e viajou pelo Oriente Próximo, tendo assistido a inauguração do canal de Suez

 

1870: Guerra franco-prussiana; Queda de Napoleão III e proclamação da III República; Criação da Union Génerale; Greve na Creusot; Fundação do Deutsche Bank

 

 

1871: Derrota da França na guerra franco-prussiana; Proclamação do Império alemão em Versalhes; Insurreição e derrota da Comuna de Paris

1871 - 1º Congresso da União Geográfica Internacional (UGI), em Antuérpia

La Blache defendeu seu doutorado na Sorbonne

 

1872: Criação do Banco Paris et Pays-Bas; Lei de repressão à Associação Internacional dos Trabalhadores; criação do Desdner Bank

1872 - Criação da primeira cadeira de geografia na Universidade Francesa (Nancy), ocupada por La Blache de 1873 a 1877

E. Levasseur: L’Étude et l’Enseigment de la Géographie

 

1873: Fim da ocupação alemã na França, após pagamento das indenizações financeiras

 

 

1875: Início do surto de phylloxéra nos vinhedos franceses (até 1888); Conquista do Congo-Brazzaville (1875-1882); Inglaterra adquire controle do Canal de Suez; Congresso dos partidos operários europeus em Gotha (Alemanha).

1875 - 2º Congresso da UGI, em Paris

 

 

1878: Aliança austro-alemã (Berlim)

1875-93 - E. Reclus: Nouvelle Geographie Universelle, 19 vol.

 

1879: Início plano Freycenet de grandes trabalhos públicos; Elevação das tarifas de importação na Alemanha; Criação do cartel alemão do potássio

1877 a 1905 - publicação da Révue de Géographie (L. Drapeyron)

1878 - La Blache foi nomeado Maitre de Conferences na École Normale Superieur (Paris)

 

1880: Lei sobre as estradas de ferro locais; criação das primeiras cooperativas de consumo

1880 - La Blache: Marco Polo, seu tempo e suas viagens, seu primeiro livro

 

1881: Protetorado francês sobre a Tunísia; Criação do Crédit de Paris e do Banque Nationale; Ensino primário laico e gratuito, obrigatório até os 13 anos (lei Jules Ferry)

1881 - 3º Congresso da UGI, em Veneza; La Blache foi nomeado subdiretor da École Normale Superieur

 

1882: Crise bancária, com várias falências (Union Générale, etc)

1882 - F. Ratzel - Anthropogeographie

 

1883: Estado substitui companhias privadas no setor ferroviário; Início da abertura do Canal do Panamá; Seguro-doença (Alemanha)

1883 - La Blache: La Terre, géographie physique et economique, seu segundo livro

 

1884: Cartel Internacional dos trilhos (G. Bretanha, Alemanha e Bélgica)

 

 

1885: Lei cria mercado a Termo; Algumas medidas de proteção à agricultura

1885 - La Blache: Cartas murais escolares

 

1887: Anexação da Indochina

 

 

1888: Ascensão de Guilherme II (Alemanha); Michelin (França) e Dunlop (G. Bretanha) criam indústrias de pneumáticos

1888 - Emm. de Margerie e G. de la Noë: Les formes du terrain

 

1889: Exposição internacional em Paris; Seguro invalidez e velhice (Alemanha)

1889 - 4º Congresso da UGI, em Paris;

La Blache: États et Nations de l’Europe autour de La France, seu terceiro livro

 

1890: Comissões operárias nas minas de carvão; Queda de Bismarck

 

 

 

1891: Aliança França-Rússia; Manifestações Sangrentas no 1º de Maio por jornada de 8 horas; Encíclica Rerum-Novarum

1891 - Lançamento dos Annales de Géographie (La Blache e M. Dubois), que se tornou a principal revista geográfica francesa; 5º Congresso da UGI, em Berna

 

 

1892: Escândalo financeiro do Canal do Panamá; Protecionismo tarifário nítido (Méline); Interdição do trabalho noturno para mulheres e crianças no limite de 11 horas por dia

1891-1892 - L. Gallois: La Dombes

 

 

1893: Eleições legislativas (50 deputados socialistas, inclusive J. Jaurès); Implantação de assistência médica gratuita

 

 

 

1894 - 1906: Caso Dreyfus

1894 - A. Penck: Morphologie der Erdoberfläche, 2 vol.; Atlas Générale Vidal de La Blache (Histoire et Géographie)

 

 

 

1895 - 6º Congresso da UGI, em Londres

 

 

1896: Programa socialista de S. Mandé; Fundação da CGT

 

 

 

 

1897: F. Ratzel: Politische Geographie

 

 

1898: Lei de indenização de acidentes do trabalho

 

 

 

 

1899: 7º Congresso da UGI, em Berlim

La Blache nomeado professor na Sorbonne

 

 

1901: Liberdade de associação assegurada por lei; Cartel internacional do alumínio

 

 

 

 

1902: La Blache: La rivière Vincent Pinzon (quarto livro); J. Brunhes: L’Irrigation: ses conditions géographiques, ses modes et son organisation dans la peninsule Iberique e dans l’Afrique du Nord

 

 

 

1903: La Blache: La France, tableau de geographie (quinto livro), in Lavisse: Histoire de France

 

 

1904: “Entente cordiale” anglo-francesa; Cartel Internacional dos Trilhos; Lei interditando escolas religiosas; Início construção do Canal do Panamá pelos EUA

1904: 8º Congresso UGI, em Washigton, do qual participaram La Blache e De Martonne entre outros

 

 

1905: Separação Igreja-Estado; Tensão franco-alemã sobre o Marrocos; Fundação da SFIO (J. Guesde); Serviço militar obrigatório (2 anos); Assitência médica obrigatória

 

 

 

1906: Repouso semanal obrigatório; Criação do Ministério do Trabalho; Catástrofe da mina de Courrières (1.000 mortos)

 

 

 

1907: Tríplice Aliança (França, Rússia e Inglaterra); Conflitos no Midi vitícola

1907: De Martonne: Traité de géographie physique

 

 

 

 

1908: L. Gallois: Régions naturelles et nom de pays; A. Vacher: Le Berry; J. Sion: Les Paysans de Normandie orientale (obs: apontamos na nota 2 outras teses defendidas naquela época)

 

 

1910: Lei das aposentadorias operárias e camponesas

1910: J. Brunhes: La géographie humaine

 

 

 

1911: R. Blanchard: Grenoble-Étude de géographie urbaine

 

 

1912: Protetorado francês sobre o Marrocos

 

 

 

 

1913: A. Siegfried: Tableau politique de la France de l’Ouest sous la IIIe République

 

 

1914-18: Primeira guerra mundial; Abertura do Canal do Panamá (1914); Assassinato de J. Jaurés (1914); 1916: batalha de Verdun (700 mil mortos)

1917: La Blache: La France de l’Est (Lorraine et Alsace)

 

 

 

1918: La Blache e L. Gallois: Le Bassin de la Sarre; morte de P. Vidal de La Blache

 

 

1920: Cisão em Tours: SFIO e PCF; Tentativa de greve geral; Seguro desemprego

1920: A. Demangeon: Le Déclin de l’Europe

 

 

1922: Acordo econômico germano-soviético

1922: La Blache: Princípios de Geografia humana (livro póstumo, editado por De Martonne); L. Febvre: A Terra e a evolução humana

 

 

1923: Ocupação do Ruhr por tropas francesas e belgas; Estabilização do marco alemão após hiperinflação; Fracasso do golpe de Hitler em Munich

1923: A. Demangeon: L’Empire britannique; S. Passarge: Die Landschaftsgürtel der Erde; Criação da Associação dos Geógrafos Franceses

 

 

1924: Vitória das esquerdas na França; Intervenção do Estado na Indústria do azoto; Constituição do cartel internacional do aço (1924-26)

1924: Instalação do Instituto de Pesquisa Social (Escola de Frankfurt), com a presença de K. A. Wittfogel autor das primeiras tentativas de Geografia marxista na Alemanha

 

 

1925: Guerra do Rif (Marrocos); Criação do Conselho Nacional de Economia

1925: A. Cholley: Les Préalpes de Sovoie et leur avant-pays (orientação De Martonne)

 

 

 

1927: A. Hettner: Die Geographie. Inre Geschichte, ihr Wesen und ihre Methoden; Início da publicação da monumental Géographie Universelle (organizada por La Blache et L. Gallois), cujo último volume foi publicado em 1948

 

 

1928: Seguro social obrigatório: Programa de habitação HBM

 

 

 

1929: Crise econômica mundial (1929-33); Acordo das empresas automobilisticas francesas visando diminuir o número de modelos

1929: Início da publicação dos Annales d’histoire économique et sociale (L. Febvre e M. Bloch), inspirados nos Annales de Géographie

 

 

1930: Complementação das leis de seguro social obrigatório

 

 

 

 

Anexo 2

Bibliografia das publicações de André Cholley existentes na Biblioteca do Instituto de Geografia da Universidade Paris I (Sorbonne).

 

1925 - Essai d’Histoire Topographique du Quartier de la Guillotière. In: Lyon, des Origines à nos Jours. La Formatión de La Cité (Kleinchausz, A.). Paris.

1925 - Les Préalpes de Savoie (Genevois Bauger) et Leur Avant Pays. Etude de Géographie Regionale. Paris.

1926 - Questions de Morphologie Beajoulaise. In: Bulletin de l’Association de Géographes Français. Paris.

1926 - Le Site et la Position Géographique de Vienne. Vienne.

1927 - Culture et Commerce de Fruits dans la Banlieue de Lyon. In: Bulletin de l’Association de Géographes Français. Paris.

1928 - Photographies d’Avion de la Vallée du Rhône. In: Bulletin de l’Association de Géographes Français. Paris.

1928 - Communication sur l’Atlas Photographique du Rhône (em co-autoria com F. Selve). Paris.

1929 - Notes de Géographie Beaujolaise. In: Annales de Géographie. Paris.

1930 - Notes de Morphologie Karstique du Poljé de Lika au Popovo (em co-autoria com G. Chabot). In: Annales de Géographie. Paris.

1931 - Atlas photographique du Rhône (em co-autoria com F. Selve). Lyon.

1932 - Études Morphologiques sur le Jura Méridional et l’Ile Crémieu. Influence de la Tectonique de Tercyenne. Surfaces Tertiaires Polygéniques. Paris.

1933 - Recherches Morphologiques en Charolais. In: Annales de Geographie. Paris.

1935 - La France. Interprétation Geographique de la Carte d’Etat Major à 1 / 80.000. Exercices Pratiques Gradués sur les Divers Tipes de Régions (em co-atuoria com E. de Martonne). Paris.

1935 - Remarques sur la Morphologie de la Borgogne. In: Annales de Géographie. Paris.

1936 - France: Métropole et Colonies (em co-autoria com A. Demangeon e C. Rosequain). Paris.

1938 - Surfaces Menliérisées dan la Région Parisienne. Paris.

1939 - Le Plateaux de de la Haute-Saôve. In: In: Bulletin de l’Association de Géographes Français. Paris.

1939 - Le Plateaux du Thimerais: Dépôts et Évolucion Morphologique. In: Compter Rendu des Séances de l’Acadèmie des Sciences. Paris.

1940 - Le Plateau du Thimeras (Etude Morphologique). In: Bulletin de l’Association de Géographes Français. Paris

1941 - Structure et Relief des Plateaux au Sud-Ouest de Paris. In: Bulletin de l’Association de Géographes Français. Paris.

1942 - Guide de l’Etudiant en Géographie. Paris.

1942 - Problemes du Bassin Parisien. In: L’Information Geographique. Paris.

1942 - Les Butter de la Région Parisienne (em co-autoria com J. Tricart), In: Compter Rendu des séances de l’Academie de Séances. Paris.

1944 - Préface. In: Pêcher et Pecheurs de la Bretagne Atlantique (C. R. Muller). Paris.

1945 - Géographie Phisyque. Conditions Tectoniques du Tracé de la Basse-Seine (em co-autoria com A. Firmin). Paris.

1946 - Problemes de Structure et d’Économie Rurale. In: Annales de Geographie. Paris.

1946 - Questions de Structure Agraire et d’Habitat Rural. In: Administration Moderne. Paris.

1946 - Préface. In: L’Huiller: Problémes de la Paix (P. George e H. Grimal). Paris.

1946 - Préface. In: Evolution de L’Économie Rurale (H. Smotkine). Paris.

1947 - Préface. In: URSS, Haute-Asie, Iran (P. George). Paris.

1947 - Préface. Les Agrumes dans le Monde (P. Robert). Paris.

1948 - La France et l’Union Française (Classe de première). In: Noveau Cours de Géographie. Manuel de Première (co-autoria com R. Clozier e J. Dresch). Paris.

1948 - Geographie et Sociologie. In: Cahiers Internacionaux de Sociologie. Paris.

1949 - Préface. In: Maisons Rurales Françaises (A. Chartier). Paris.

1949 - Agrégation de Géographie (Homme et Femmes). Paris.

1951 - La Géographie (Guide de l Etudiant). Paris.

1952 - Agrégation de Géographie. Paris.

1952 - Géographie Génerale (Classe de Seconde). In: Noveau Cours de Géographie, Ensigment du Second Degré (co-autoria com R. Clozier). Paris.

1952 - L’Agrégation de Géographie. In: Bulletin de la Société des Professeurs d’Histoire et de Géographie.

1953 - Quelques Aperçus Noveaux sur la Morphologie du Bassin de Paris. In: Annales de Géographie. Paris.

1957 - Recherches Morphologiques Paris.

 

 

Anexo 3

Bibliografia das publicações de André Cholley

na L’Information Géographique:

 

1936 - Editorial.

1936 - Groupes Regionaux..

1937 - Un Village Lorrain: Frambois.

1936 - Notre Excursion en Corse (15 - 21 deSeptembre 1936).

1937 - Excursion en Valois.

1937 - Quelques Reflexion Sur l’Enseignement de la Geographie.

1937 - Quelques Reflexions sur l’Einseignement de la Geographie.

1937 - Les Massifs en France.

1938 - Saint-Etienne et les Pays de la Loire.

1938 - Le Plaines Francaises.

1938 - Excursion du 14 novembre 1937.

1938 - Les Plaines Françaises.

1938 - L’Enseignement de la Geographie dans les Cours Complementaires.

1938 - Les Cartes et l’Enseignemente de la Geographie.

1939 - Le Bassin Parisien.

1939 - Le Rhone.

1939 - Editorial.

1939 - Editorial.

1940 - Régions Naturelles et Régions Humaines.

1940 - Le Milleux Humaines.

1942 - .Problems du Bassin Parisien.

1948 - Remarques sur Quelques Points de Vue Géographiques.

 

Anexo 4

Trabalhos de André Cholley citados no Estudo de Jacques Gras.

 

Travaux Morphologiques

A) Le Domaine de la Thèse:

- Les Débouchés de la Vallée d’Annecy. Etude de Morphologie Fluvio-Glaciaire., dans Annales de Géographie, 1923.

- Evolution du Relief Karstique du Parmelan, dans Compte rendus... de L’Académie des Sciences, 1923.

- Les Préalpes de Savoie, Genevois, Bauges e leur Avant-Pays. Etude de Géographie Régionale. Paris, 1925.

- Compte rendu de L’Excursion des Géographes Français dans les Préalpes de Savoie.... 1926.

 

B) La Région Lyonnaise:

- Questions de Morphologie Beajolaise, dans le Bulletin de L’Association de Géographes Français, 1926.

- Notes de Géographie Beaujolaise, dans Annales de Géographie, 1926.

- Recherches sur les Surfaces d’Aplainissement Tertiaires dans le Jura Meridional, dans le Congrès Géographique International, Paris, 1931.

- Etudes Morphologiques sur le Jura Méridional et L’Ile Cremieu: Influences de la Tectonique Hercyenne, Surfaces Tertiaires Polygénics, dans Annales de Géographie, 1932.

- Recherches Morphologiques en Charolais, dans Bulletin de L’Association de Géographes Français, 1933.

- Compte Rendu de L’Excursion de L’Association de Géographes Français en Charolais, ibd.

- Carte des Surfaces d’Aplanissament du Charolais et du Mâconnais, dans le Congrès Géographique International, 1934.

- Remarques sur la Morphologie de la Bourgogne Méridionale, dans Annales de Géographie, 1935.

- Les Plateaux de la Haute-Saône, ibd, 1939.

- Questions de Morphologie Jurassienne, ibd, 1948.

 

C) La Région Parisienne et Le Bassin de Paris:

- Surfaces Meulierisées de la Région Parisienne, dans Bulletin de L’Association des Géographes Français, 1938.

- Surfaces Meulierisées de la Région Parisienne, Extrat des rapports de la Commision pour la Cartographie des Surfaces d’Aplanissement, dans Congrès Géographique Internacional, 1938.

- Le Plateau du Thimerais: Dépôts et Évolution Morphologique, dans Comptes Rendus... de L’Académie des Sciences, 1939.

- Le Plateau du Thimerais. Etude Morphologique, dans Bulletin de L’Associations de Géographes Français, 1940.

- Strutucture et Relief des Plateaux du Soud-Ouest de Paris, ibid, 1941.

- Problèmes du Bassin Parisien, dans L’Information Géographique, 1942.

- Les Buttes de la Région Parisienne (en collab. avec J. Tricart), dans Compte Redus ... de L’Academie des Sciences, 1942.

- Recherches sur les Surfaces d’Érosion et la Morphologie de la Région Parisienne, dans Annales de Géographie, 1943.

- Conditions Tectoniques du Tracé de la Basse Seine (en collab, avec H. Firmin), dans Comptes Redus... de lÁcademie de Sciences, 1945.

- La Vallée et les Méandres de la Basse Seine, dans Bulletin de lässociation de Géographes Français, 1945.

- Morphologie Estructurale et Morphologie Climatique, dans Annales de Géographie, 1950.

- Aperçus Nouveaux sur la Morphologie du Bassin de Paris, ibid, 1953.

- Observations Morphologiques sur la Vallée de la Basse Seine, dans Bulletin de l”Association de Géographes Français, no 259 - 260.

- Remarques sur la Structure et la l’Évolution Morphologique du Bassin de Paris, ibid, 1960.

 

Travaux de Géographie Humaine et Régionale.

- Les Préalpes de Savoie... (cf. supra).

- Essai d’Histoire Topographique de la Guillotière et de la Périphérie Orientale de Lyon, dans Lyon, des Origines à nous jours: La Formation de la Cité, publ. Sous la dir. de A. Kleinclausz, 1925.

- La Cité et la Position Géographique de Vienne, conférence pronocée devant la Société des Amis de Vienne, 1926.

- Culture et Commerce des Fruits dans la Banlieue de Lyon, dans Bulletin de l’Association de Géographes Français, 1927.

- Présentation de une carte de la Répartition de l’Habitat Rurale, dans Congrès Géographique Internacional, 1931.

- Problèms de Structure Agraire et d’Économie Rurale, dans Annales de Geographie, 1946.

- Les Questions de Structure Agraire et d’Habitat Rural, dans L’Administration Moderne, 1946.

- Remarques sur Quelques Points de Vue Géographiques, dans L’Information Géographique, 1948.

 

Divers:

Publications d’Intérêt Pedagogique ou Extériures au Domaine Habituel des Recherches:

- La Vôge, dans Annales de Géographie, 1914.

- Notes de Morphologie Karstique (en collab. avec J. Chabot), dansAnnales de Geographie, 1930.

- Atlas Photographique du Rhône (en collab. avec F. Selve), dans Bulletin de l’Association de Géographes Français, 1928.

- France: Métrople et Colonies (en collab. Avec A. Demangeon et C. Robequain), Paris, 1932- 1936.

- La France. Interprétation Géographique de La Carte d’État Major au 1/80.000. Exercices Gradués sur les Divers Types de Région (en collab. avec E. de Martonne), Paris, 1934- 1935.

- Guide de L’Etudiant en Géographie, Paris 1942.

- La France et l’Union Française. Nouveau Cours de Géographie publ sous la dir. d’A. Cholley. Classe de Première, par A. Cholley, R. Clozier et J. Dresch, 1948; Classe de Seconde, par A. Cholley et J Dresch, 1952.

 

Anexo 5

Bibliografia das publicações de André Cholley  nos Annales de Géographie:

 

1915 - La Vôge.

1923 - Les Débouchés de la Vallé d’Annecy.

1925 - Les Régime et les Crues du Rhône.

1926 - L’Irrigation dans la Région du Sud-Est. la Voie Navegable Marseille-Alsace.

1929 - La Geographie Politique et Économique de la France d’Après J. Brunhes et P. Deffontaines.

1929 - Notes de Geographie Beajoulaise.

1930 - Notes de Morphologie Karstique: du Poljé de Lika au Popovo.

1930 - La Meteorologie du Relief Terrestre.

1931 - Le Trafic par Eau de la Région Parisienne.

1931 - Océanie. -Régions Polaires Australes.

1932 - Études Morphologiques sur le Jura Méridional et l’Ile Crémieu.

1932 - La Population de la France en 1931.

1933 - Recherches Morphologiques en Charolais.

1935 - Le Congrès Internacional de Géographie de Varsovie.

1935 - Remarques sur la Morphologie de la Bourgogne Méridionale.

1937 - La Région du Bas-Rhône.

1939 - Les Plateaux de la Haute-Saône.

1943 - Recherches sur les Surfaces d’Erosion et la Morphologie de la Région Parisienne avec 2 Planches Hors Texte et 8 Figures dans le Texte.

1943 - Deux Atlas Regionaux de Geographie Humaine.

1943 - La Gare du Nord.

1945 - La Bourgogne.

1945 - Le Pays des Alouites, d’Après Weulersse.

1946 - Problèmes de Structure Agraire et d’Économie Rurale.

1948 - La Géographie Physique de la France, Emm. De Martonne.

1948 - Questions de Morphologie Jurassienne.

1950 - Morphologie Estructurale et Morphologie Climatique.

1952 - Maurice Zimmermann (1870-1950).

1952 - La Partie Orientale du Bassin de Paris, d’après Mr Jean Tricart.

1952 - La Partie Nord-Ouest du Bassin de Paris et la Partie Sud-Est du Bassin de Londres, d’après Mr Philippe Pinchemel.

1953 - Quelques Aperçus Noveaux sur la Morphologie du Bassin de Paris.

1955 - Le Plaines de la Saône et Leurs Bordures Montagneuses, d’après Mr A. Journaux.

1956 - Emmanuel de Martonne.

1959 - Le Climat du Bassin Parisien, d’après M. P. Pédelaborde.

1962 - La Lorreine Sidérurgique.

1964 - A Propos de la Cartographie Régionale: Atlas de l’Est et Atlas du Nord de la France.

 

 

Anexo 6

Nouveau Cours de Geographie pour l’Enseignement Secondaire, publié sous la Direction de A. Cholley.

 

Les Pussances ëconomiques du Monde (coautoria com P. Birot, R. Clozier, J. Dresch e P. George).

La France et l’Union Française (coautoria com R. Clozier e J. Dresch).

Géographie Générale - Physique et Humaine (coautoria com R. Clozier).

La France Metropolitaine et La France d’Outre-Mer (coautoria com R. Clozier e J. Dresch).

Le Monde (Moins l’Europe, l’Asie Russe et les Colonies Françaises) (coautoria com R. Clozier, J. Dresch e P. Birot).

Géographie Générale - Les Étapes de la Découverte de la Terre (coautoria com R Clozier).

 

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* Texto publicado no Cadernos Geográficos n 6. Florianópolis: EDUFSC, 2003.

 

[1] Griffith Taylor (1880-1963) organizou Geography in the Twentieth Century, 1951, Londres (Methuen), enquanto André Cholley organizou através de l'Information géographique o volume La Géographie française au milieu du XXe siècle, 1957, Paris (J. B. Baillière et fils). Em 1939 R. Hartshorne havia publicado o seu importante The Nature of Geography, reeditado em 1966.

[2] Emm. De Martonne (1902): La Valachie. Essai de monographie géographique, A. Colin; A. Demangeon (1905): La Picardie, A. Colin; R. Blanchard (1906); La Flandre, A. Colin; C. Vallaux (1907): La Basse-Bretagne, étude de gégoraphie humaine, Ed. Cornély; M. Sorre (1913): Les Pyrénnés méditerranéennes, étude de géographie biologique, A. Colin.

[3] M. Sorre: Les Fondements de la géographie humaine, A. Colin, 4 vol., 1942-1953. A. Cholley: La Géographie, guide de l’étudiant, PUF, 1951 (primeira edição de 1942).

[4] M. Niveau: História dos fatos econômicos contemporâneos, cap. II (Industrialização e crescimento da economia francesa), Difel, 1969. M. Flamant: Histoire economique et sociale contemporaine, chap. II (L’économie française de 1871 a 1914), Ed. Montchrestein, 1976.

[5] J. H. Clapham: The Economic Development of France and Germany, 1961, p. 53

[6] R.E. Cameron: France and the Economic Development of Europe 1800-1914, lembrou que a Escola Polítécnica serviu de inspiração às Escolas de engenharia de Praga (1806), Viena (1815), Estocolmo (1825), várias alemãs (1820-30), Liège (1835), Zurich (1848) e mesmo à Escola militar de West Point. O MIT americano (1861) se baseou na Escola Central de Artes e Manufaturas. Aliás, a França foi provavelmente o primeiro país a implantar uma Escola de engenharia (École des Ponts et Chaussés, 1747) e daí a importância da adoção do sistema métrico (1790) e a ênfase proposta ao ensino da matemática (Condorcet, 1792). Assinale-se também que foi na Escola Normal Superior que se gestou a geografia francesa, com P. Vidal de La Blache.

[7] K. Marx discutiu a relação entre pequena propriedade camponesa e os freios à aceleração capitalista em Teoria moderna da colonização, cap. XXV do primeiro tomo de O Capital, Ed. Civ. Bras., enfatizando sobretudo a situação dos EUA antes da Guerra de Secessão.

[8] T. Kemp: A Revolução Industrial na Europa do século XIX, cap. III Desenvolvimento econômico francês: um paradoxo? Ed. 70, 1987.

[9] K. Marx: As lutas de classes na França de 1848 a 1850 e a introdução de F. Engels à edição de 1895, in K. Marx e F. Engels: Textos vol. III Alfa-Ômega.

[10] M. Niveau: obra e capítulo citados, sendo os dados populacionais de W. S. Woytinsky.

[11] F. Engels: introdução acima citada, pp. 101-02.

[12] M. Flamant, ob. cit. cap. II e P. Bairoch: Commerce extérieur et développement écnomique de l’Europe au XIXe siècle, cap. XI, Mouton, 1976.

[13] Os nomes mais destacados entre os filósofos foram Kant, Fichte, Schelling e Hegel e na literatura Goethe e Schiller, sobretudo. Sobre a gênese da geografia alemã ver Raquel M. F. do Amaral Pereira: Da Geografia que se ensina à Gênese da geografia moderna, 3ª edição revisada, Ed. UFSC, 1999.

[14] A.L. Sanguin: Redécouvrir la pensée géographique de Kant, Ann. Géo, nº 576, 1994.

[15] A. Mamigonian: A geografia e “a formação social como teoria e como método”, in M. Adélia A. Souza (org.): O Mundo do cidadão, um cidadão do mundo, Hucitec, 1996.

[16] G. Tatham, in G. Taylor, ob. cit. cap. II.

[17] M. Flamant, ob. cit. p. 217.

[18] A identidade da França, em 3 volumes, o último dos quais de 1986, das Ed. Arthaud. No meio volume (Espaço e história), Braudel deu grande ênfase às bases geográficas, na linha da École des Annales.

[19] A. L. Sanguin, ob. cit. p. 139.

[20] R. J. Harrison Church, in G. Taylor, ob. citada.

[21] R.J. Harrison Clurch, in G. Taylor, ob. citada.

[22] A. L. Sanguin: Vidal de La Blache, un génie de la géographie, Ed. Belin, 1993.

[23] G. Tathan, in G. Taylor, ob. cit.

[24] N. Broc: Vidal de La Blache en Amérique du Nord, Ann. Géo. nº 561-562, 1991.

[25] H. Church, in G. Taylor, ob. cit., Cronologia anexa e nota (2) deste texto.

[26] L. A. Sanguin, 1993, ob. cit.

[27] I. Rangel, entrevista à Geosul, nº 5, 1988.

[28] L. Febvre: A Terra e a evolução humana (introdução geográfica à história), cuja edição original é de 1922. P.V. La Blache: La géographie politique d’après les écrits de M.F. Ratzel, Ann. Géo., 1898.

[29] N. Broc: Vidal de La Blache en Amérique du Nord, Ann. Géo., 1991.

[30] L. Febvre: A Terra e a evolução humana (introdução geográfica à história). Ed. Cosmos, Lisboa, 1991.

[31] G. Tatham, in G. Taylor, ob. cit. cap. III.

[32] S. Van Valkenburg, in G. Taylor, ob cit. Escola germânica de geografia; V. Berdonlay, ob.cit. cap. VI, A epistemologia vidaliana; K. Hanshofer: De la géopolitique, Ed. Fayard e K.A. Witfogel: Geopolítica, materialismo geográfico e Marxismo, 1929, Seleção de textos, AGB, nº 20.

[33] H. Lefebvre: La pensée de Lénine. Bordas, 1957 cap. O Pensamento económico de Lênin, p. 206 a 253. Na geografia foi M. Santos que fez uso da categoria formação econômico-social: Sociedade e espaço – a formação social como teoria e como método, Bol. Paulista de Geografia, nº 54, 1977. O desenvolvimento desta categoria por Y. Lacoste levou-o a classificar o Japão como subdesenvolvido.

[34] G. Bourdé e H. Martin: Les écoles historiques, Ed. Seuil, 1983, cap. 7. A escola dos “Annales”.

[35] N. Thrift: Visando o âmago da região, sobretudo a tabela 7.1 (Três autoridades: Vidal, Marx e Jameson), in D. Gregory et alli (org.): Geografia humana: sociedade, espaço e ciência social, Rio de Janeiro, J. Zahar, 1996.

[36] F. Braudel: A identidade da França (os homens e as coisas), Ed. Globo, vol. III, 1986, onde discute uma “economia camponesa” até o século XX, p. 9 a 165.

[37] A longas etapas de subordinação e adaptação da economia camponesa ao comando do capitalismo francês, estão bem discutidas por A. Lipietz: O capital e seu espaço, Ed. Hucitec.

[38] V. Berdoulay (1995), p. 230.

[39] P. Vidal de La Blache: Lês genres de vie dans la géographie humaine, Ann. Géo., 1911. P. George: Introduction à l’étude géographique de la population du monde, Paris, PUF, 1956. La Blache sentiu necessidade de uma categoria de análise mais adequada do que gêneros-de-vida e que desse conta dos fatores humanos de grandes dimensões territoriais, tendo elegido “civilização”, depois de sua viagem aos EUA (1904), capaz de distinguir grandes tipos de sociedades. Mais tarde lablachianos como P. Gourou fizeram grande uso desta categoria.

[40] Y. Lacoste: La géographie, ça sert d’abord à faire la guerre, Maspeo, Paris, 1976.

[41] Os países limítrofes à França estudados especificamente foram a Suíça, o Império alemão, o Reino da Bélgica, o Reino da Holanda, o Reino Unido da G.Bretanha e da Irlanda, o Reino da Espanha, o Reino de Portugal e o Reino da Itália.

[42] P. Vidal de La Blache: “La geógraphie politique d’après les écrits de M.F. Ratzel”, Ann. Géo., 1898; La France de l’Est (Lorraine-Alsace) alcançou a 4ª edição em 1920, pela Lib. A. Colin.

[43] G. Tathan, in G. Taylor (1951), N. Broc (1991), p. 636. A Cholley: Tendances et irganization de la géographie en France, in A. Cholley (1957), p. 24, totalizando 16 universidades, incluindo a de Argel.

[44] A. Meunier: Histoire de la pensée géographique en France (1872-1969), PUF, 1969 e P. Claval: Histoire de la Géographie française de 1870 à nos jours, Nathan, 1998.

[45] A. Cholley: Tendances et organizations de la Geógraphie en France.

[46] A referida tese é de 1925 (A. Colin) e o primeiro texto de fôlego o iniciante A. Cholley foi também um estudo regional sobre sua região, localizada na parte meridional da Lorena: La Vôge, Ann. Géo., 1915, pp. 219-235.

[47] Emm. De Martone: Lês Préalpes de Savoie. Ann. Géo., 1927, p. 363-67.

[48] A. Cholley publicou nos Ann. Géo. Três artigos sobre a morfologia da região parisiense (1943) e mais tarde o famoso Morphologie structurale et morphologie climatique (Ann. Géo., 1950), traduzido em 1960 no Boletim Geográfico CNG.

[49] Informação oral.

[50] J. Grãs: André Cholley, in: Ph. Pinchemel et alli: Deux siècles de geographie française, CTHS, 1984.

[51] J. Grãs: André Cholley (1886-1968), in P. George: Les géographes français, CTHS, 1975.

[52] R. Hartshorne: Perspectivas on the nature of geography. Assoc. of Am. Geogr., 1966, com tradução do IPGH, Rio de Janeiro, 1969 e G. Bertrand: entrevista a GEOSUL, UFSC, 1998, nº 26, p. 144-160.

[53] A. Meynier.

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