ELABORAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA
Roberto Lobato Correa*
Na elaboração de um projeto de pesquisa
– monografia de bacharelado, dissertação de Mestrado, tese de Doutoramento ou
uma pesquisa rotineira devemos estar atentos para três pontos cruciais. São eles:
a problemática,
os questionamentos
e a operacionalizacão.
Os três constituem a estrutura básica de qualquer projeto, não importando o
nome que se dê às suas partes. Por outro lado os três pontos estão articulados entre si:
Uma pesquisa deve começar com uma
problemática, isto é, devemos lançar um problema sobre um dado aspecto da
realidade. A partir desse problema organizamos um conjunto de práticas que
permitem solvê-lo.
A problemática associa-se a um conjunto
de perguntas. O que? Onde? Quando? Por quê?
A primeira pergunta implica que se
recorte o objeto de pesquisa. Neste recorte, o objeto deve ser claramente
definido.
A pergunta onde? é de fundamental
importância, especialmente para nós geógrafos Se da primeira pergunta deriva-se
o recorte
temático, da segunda deriva-se o recorte espacial. A terceira
pergunta, por sua vez, diz respeito ao tempo, sendo o recorte temporal, que
pode ser o presente, um período que se estende da origem ao presente ou uma
secção do tempo no passado.
Vejamos alguns exemplos dos recortes ou
objetos:
1. – a rede urbana mineira na década de 1920
2. – a franja rural-urbana em Niterói no presente
3. – as migrações rurais-urbanas no Nordeste no
período 1960-1991
A pergunta por que? é decisiva. O que
nos levou a fazer esse recorte (temático, espacial e temporal)? Há várias
possibilidades.
No plano puramente acadêmico temos três
possibilidades:
1.
– objeto é recente e não há teoria sobre ele
(ausência)
2.
– a teoria que o aborda está ultrapassada
(atualização)
3.
– existem duas ou mais teorias conflitantes
sobre o objeto (conflito)
No plano prático temos evidências que o
objeto constitui-se em um problema econômico, social, político, ambiental, etc.
Naturalmente a identificação de um dado objeto como um problema depende de
nossa visão de mundo.
Devemos buscar apoio na teoria para ser
possível delimitar bem a natureza do problema que identificamos.
A partir de então temos um objeto
de conhecimento, claramente identificado e problematizado.
A partir da problemática podemos lançar
algumas questões, isto é, interrogantes a respeito do nosso objeto. Este é um
ponto crucial, pois qualquer aspecto do mundo real (uma cidade, uma área
industrial, um processo de transformação da paisagem, etc.) pode ser
questionado através de inúmeras interrogantes. Os nossos questionamentos devem
estar solidamente associados à problemática que elegemos.
As questões devem ser, assim,
justificadas, recorrendo à teoria ou a evidências empíricas.
E necessário, por outro lado, haver uma
questão
central, que pode, entretanto, ser subdividida em 3, 4 ou 5
sub-questões. Estas, reafirma-se, são desdobramentos da questão central e não
novas questões.
A questão central deve ser geográfica. As
sub-questôes não necessariamente. Em outras palavras, na questão central
devemos considerar a dimensão espacial do objeto
selecionado. Vejamos alguns exemplos hipotéticos de questões centrais (ou de
sub-questões):
1. – qual o padrão espacial do objeto que
selecionamos para estudo?
2. – por que o objeto apresenta o padrão espacial
que apresenta?
3. – o padrão espacial sempre foi o mesmo?
4. – se mudou, desde quando, como era no passado
e por que mudou?
5. – que agentes sociais foram responsáveis pela
organização espacial atual?
6. – quais são as interações espaciais associadas
ao objeto?
7. – qual a origem dos imigrantes residentes nas
favelas da cidade x?
8. – por que na região x a malha
político-administrativa é estreita e na região y não?
9. – como se formou a paisagem atual?
10.
– quais os impactos espaciais das
transformações sociais?
11.
– qual o significado da forma espacial x para
determinado grupo social? etc.
A operacionalização está essencialmente
vinculada à questão como? Isto é, como iremos efetivamente responder às questões
que formulamos?
Dois aspectos devem ser ressaltados na
operacionalização: as fontes e os procedimentos.
As fontes dizem respeito às diversas
possibilidades de se ter informantes do mundo real: mapas,
estatísticas, filmes, noticiários (jornais, rádio e televisão), documentos em
arquivos, agentes sociais (moradores, empresários, trabalhadores, etc. ,
instituições públicas e privadas, etc. )
Os procedimentos referem-se às
possibilidades de se produzir informacões: questionário
fechado, questionário aberto, entrevista dirigida, mapeamento, leitura de
fotografias e imagens de satélites, análise estatística, etc. .
É conveniente frisar que deve haver uma
compatibilidade entre os questionamentos e a operacionalização, iniciando-se
pela factibilidade de se responder às questões formuladas.
Este é um guia prático. Não substitui a
bibliografia sobre elaboração de projetos. Consulte-a atentamente. Converse com
seu orientador e com seus colegas. Faça um bom projeto porque dele será
possível realizar a sua pesquisa com tranqüilidade e eficiência pelo simples e
importante fato que ela, em essência, já foi construída em sua mente.
*
Professor
do Departamento de Geografia - UFRJ.