José Trajano – O Lance
27-06-01
E o Pelé da geografia se foi...
Pelé não
é um. São vários. Mas tudo começou com Pelé, o Edson Arantes, o craque-café.
Daí em diante, surgiram outros Pelés, embora alguns mais velhos do que o primeiro
Pelé. Há Pelés em diversas áreas, na música, literatura, cinema, teatro. Pena
que no futebol não exista mais, só o original.
Tom Jobim é Pelé na música popular, assim como Oscar
Niemeyer é Pelé na arquitetura, Nelson Rodrigues no teatro, Jorge Amado na literatura.
Mas esses Pelés foram ou são reconhecidos de alguma forma. Deveriam ser muito
mais, o que por aqui infelizmente não acontece.
Há um Pelé, porém, que morreu anteontem e quase ninguém
soube. Negro, como o craque-café, brilhou na França e entre outros países
europeus. Não com a habilidade nos pés, mas com a cabeça. A morte do geógrafo
baiano Milton Santos, intelectual que qualquer país se orgulharia de ter sido
berço, mereceu algumas linhas nos jornais daqui.
A geografia de Milton Santos não era a de decorar os
nomes dos afluentes do rio Amazonas ou das capitais dos países, como a gente
aprendeu na escola.
Era muito mais do que isso. Ele estudava a geografia
humana e foi até seus últimos dias fervoroso adversário da globalização que
está aí. Milton Santos defendia a globalização mais solidária e preocupada com
o homem.
Quem o ensinou a ler e a escrever foram os pais, na
pequena cidade de Brotas de Macaúbas no interior da Bahia. Pena que o Pelé, que
nasceu também pobre em Três Corações e depois foi criado em Bauru, não tenha
tido oportunidade de conviver com esse Pelé preocupado com a exclusão social.
Talvez tivesse a chance de aprender coisa muito melhor do
que no convívio com a cúpula da CBF e com um ministro do PFL. Fazer o que no
país que maltrata alguns de seus Pelés? E o pior é que eles estão acabando:
Darcy, Antônio Callado, Milton Santos, Tom Jobim, Drummond, Glauber Rocha...
Quem sabe tudo volte ao começo e reste só um Pelé, o 1º e, no caso, único. Aí,
minha gente, será impossível agüentar.
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