Breve Apresentação
Militante
comunista e homem de Estado
Ignácio de Mourão Rangel
nasceu em Mirador, no Estado do Maranhão, no dia 20 de fevereiro de 1914. Desde
cedo, dedicou-se aos estudos visando seguir a carreira de seu avô e seu pai
(Juízes de Direito). No início dos anos de
Libertado em 1937, retorna
a São Luís, onde retoma os estudos de Direito e passa a trabalhar na Indústria
Martins Irmãos e Cia. No início de 1945, livra-se do domicílio coacto
Em 1950, com apoio de
Rômulo de Almeida, é indicado para trabalhar na Confederação Nacional da
Indústria (CNI) e “em 1952, dada a
qualidade de seu trabalho e o interesse despertado pelos inúmeros artigos
publicados por Rangel a partir de 1947, seu nome foi sugerido por Rômulo de
Almeida ao então Presidente Vargas, que o convida para a sua Assessoria (...).
Nessa assessoria, entre as inúmeras tarefas, colabora na elaboração do Projeto
da Petrobrás e da Eletrobrás” (BRESSER PEREIRA; REGO, 1998, p. 16).
Após redigir sua tese da
dualidade, em 1954, Rangel vai para Santiago do Chile
realizar um curso de pós-graduação na CEPAL.
Um ano após ingressa no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e coordena o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek.
Diante dessas experiências, é convidado, em 1964, por João Goulart, para ser
Ministro. Segundo Rangel (1985, p. 09), “no dia 20 de fevereiro de 1964 – 40
dias antes do Golpe de Estado (...) – o Presidente João Goulart fez-me chamar à
sua presença no Palácio das Laranjeiras. Achava que já era tempo que eu
assumisse maior responsabilidade no governo (...), deixava-me a vontade para
escolher entre o Ministério Extraordinário do Planejamento e a Superintendência
da Moeda e do Crédito: a poderosa SUMOC, atual Banco
Central. Eu agradeci efusivamente a lembrança de meu nome”. Ademais, ele,
negou-se, afirmando que o corpo técnico da SUMOC era
subordinado a Roberto Campos.
O Golpe Militar de 1964 e
o debate que se seguiu chamaram a atenção para as idéias de Rangel, pois o estagnacionismo de Celso Furtado e a busca de bodes
expiatórios por Caio Prado Jr., demonstrou o esgotamento teórico de parte da
esquerda. Assim, “após 1964 alguns cepalinos passaram
a considerar a existência de Rangel, como foi o caso de muitos economistas, às
vezes sem dar os devidos créditos e freqüentemente em misturas indigestas de
idéias”.
Em 1976, Rangel,
aposenta-se no BNDE, mas continua a dar consultoria
ao banco até o final dos anos de 1980. Ainda no segundo lustro dos anos de
1970, intensifica-se o processo de reavaliação das importantes contribuições de
Rangel para o pensamento econômico brasileiro (Bresser Pereira, Davidoff da Cruz, Mantega,
Mamigonian, Bielchowski, entre outros). Processo esse
que se acelera na década de
A
dualidade inerente à formação social brasileira
A contribuição do
pensamento de Ignácio Rangel à interpretação da realidade brasileira é muito
vasta e rica, mas podemos destacar algumas de suas idéias fundamentais:
A dualidade na formação
social brasileira
1)
a dualidade básica da economia brasileira,
2)
o papel dos ciclos longos ou Kondratieff,
3)
o papel dos ciclos curtos ou de Juglar,
4)
capacidade ociosa e pontos de estrangulamentos na economia
A tese das “dualidades básicas
da formação social e econômica brasileira”, formulada pelo economista marxista
maranhense Ignácio Rangel na década de 50, tornou-se um importante instrumental
teórico para entender o Brasil.
A crise da economia
brasileira, iniciada nos anos de 1980, fez emergir no cenário
econômico/político idéias-força que procuravam explicar a crise a partir do
plano interno pelo esgotamento do modelo se substituição as
importações e do plano externo em decorrência da crise do petróleo. O
receituário foi à aplicação de planos econômicos (Cruzado, Bresser e Verão) que
objetivavam o combate a inflação, a estabilidade
econômica e a competitividade. Em nome desse tripé, assistiu-se, nos anos de
1990, o fim da liquidez da economia, a abertura indiscriminada (Plano Collor),
a sobrevalorização cambial e as privatizações (Plano Real).
Esses equívocos decorrem da falta de uma análise consistente do processo de desenvolvimento econômico, político e social do Brasil. Sobretudo, pela negligencia, por parte da intelectualidade e lideres políticos, das idéias expostas pelos grandes analistas do desenvolvimento brasileiro. Dentre eles destaca-se Ignácio Rangel. Assim, esse artigo, procura demonstrar como a teoria da dualidade brasileira de Rangel pode ser útil, não só para fazer um diagnóstico preciso sobre a presente crise, mas apontar com precisão as possíveis soluções.
Fonte: Transcrito do 1º Encontro
Sulbrasileiro de Geografia, anais, Curitiba, 2003.
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